Melhorando a convivência entre cães
Claudia
Pizzolatto -
claudia@lordcao.com
Por séculos convivemos com os cães e os chamamos de melhor amigo do homem. Mas será que conhecemos, realmente, nossos melhores amigos? Será que nós, humanos, entendemos o que se passa na cabecinha destes maravilhosos animais? Como eles se organizam e como percebem o mundo? A maioria das pessoas não têm a menor idéia de como funciona o mundo dos cachorros. Para começarmos a entender esses peludinhos precisamos saber que cães são animais sociais. Eles precisam e querem conviver numa família, seja esta família canina ou humana.
Outra característica importante no mundo dos cachorros é forma hierárquica com que eles se organizam. Para os cães não existe igualdade. Nem eles querem que exista. Quando um cachorro vive com um grupo de outros cachorros, seja no fundo do quintal, seja no meio do mato, sempre haverá um líder. Os outros membros da matilha também estão subordinados uns aos outros, de forma que os mais fortes e dominantes podem mais, e os mais submissos podem menos. Quando cada um sabe o seu lugar dentro do grupo, dificilmente irão ocorrer brigas. Quando elas ocorrem são normalmente passageiras e significam que um cachorro que ocupa uma posição inferior está tentando subir um degrau na hierarquia do grupo. As causas mais comuns para as brigas são quando o líder da matilha fica muito velho ou doente, ou entre cachorros de mesmo sexo e mesmo porte que se acham capazes de desafiar um ao outro.
Aos subordinados cabe ajudar o líder nas caçadas, defender o território, ajudar a cuidar dos filhotes e, principalmente, obedecer ao líder, que sempre escolhe o melhor lugar para dormir, a maior porção de comida, para que lado eles vão passear e investigar, quando parar para descansar e quando iniciar um ataque. O que para nós parece maldade ou tirania, para os cães é apenas a natureza e a forma como eles sobrevivem. Cachorros não pedem, não negociam, não dão uma segunda chance. Nem tampouco eles contam até três. Se você já entendeu esta parte, aí vão mais algumas considerações que podem ajudar a entender e a enfrentar este problema. Normalmente os cachorros que vivem numa matilha estável (sempre os mesmos "moradores") não ficam disputando a liderança o tempo todo porque o líder nem dá este tipo de confiança para os cachorros mais submissos. Quando a matilha é estável o líder é líder e pronto. Problemas podem acontecer quando novos cães são incluídos na matilha pelos seres humanos (dificilmente acontece na natureza de um cachorro estranho se juntar a uma matilha já estabelecida. O grupo só cresce quando nascem filhotes). Quando os filhotes nascem, os pequenos jogos entre eles já vão dizendo quem vai ser o próximo líder. A briga só acontece quando o filhote líder (agora já adulto) começa a testar o velho líder para ver se ele já está velho e cansado o bastante para ceder o posto. No entanto, ao contrário do que possa parecer, o líder da matilha não é líder só porque ele "bate" nos outros cachorros. O líder é líder por muitas razões, a menor delas é a força física contra os membros da matilha. Afinal, se fosse só por medo, a matilha toda poderia tornar o líder um proscrito e com certa facilidade. Dificilmente o líder tem que ficar se impondo. Ele é o mais forte, o mais decidido e o que comanda naturalmente. Os outros o seguem por respeito.
Primeiro identifique quem é o cão mais dominante e portanto com maior propensão para assumir a liderança. Fique de olho sempre que eles estiverem juntos e vá vendo como eles se comportam. Se um aceitar bem as correções do outro (geralmente o mais velho vai ser o mais dominante), dificilmente vão haver grandes confrontos enquanto o mais novo não atingir a maturidade (mais ou menos 2 anos). Deixe que os cães estabeleçam quem é o dominante e quem é o dominado e aceite este arranjo entre eles. Dê comida, fale, brinque, faça festa e qualquer outra coisa, sempre para o mais dominante primeiro. Não tenha pena de deixar o mais submisso em segundo plano. Para os cães isso é a lei natural das coisas e eles aceitam bem a hierarquia, desde que ela esteja bem definida.
Se as brigas forem poucas e nada sérias deixe que eles se entendam. Se as "ranhetações" estiverem incomodando, brigue com o mais submisso e nunca com o mais dominante, mas não admita, em hipótese nenhuma, que ele (o mais dominante) desobedeça as suas ordens, mesmo que seja para dar uma dentadinha no mais submisso. A castração pode ajudar bastante mas deve ser realizada sempre de baixo para cima, ou seja, do mais submisso para o mais dominante. Um outro exercício que ajuda bastante (principalmente para que a introdução de um novo cachorrinho aconteça sem muitos tropeços) é levar os cães para passear na rua, em local neutro. Cada um deve ir com uma pessoa, o mais dominante sendo levado pela pessoa que é mais respeitada e que seja o líder. Procure deixar os cães andarem lado a lado, com uma ligeira vantagem para o cachorro mais dominante ir na frente. Repita este exercício todos os dias. Ao chegar em casa libere da coleira primeiro o cachorro mais dominante e depois o mais submisso. Deixe eles descansarem juntos. E finalmente, procure não separar os cães, a menos que eles ofereçam perigo uns para os outros (exceção para os cães cujas raças são conhecidas e criadas pela sua agressividade contra cães do mesmo sexo. Com estes todo o cuidado é pouco). Cães separados por muito tempo, e que já possuem um histórico de brigas, podem se tornar extremamente territoriais e, dependendo do caso, fica impossível juntá-los novamente. Claudia Pizzolatto
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