Cães e Crianças - Parte II
Ataques de cães a crianças


A mídia não se cansa de noticiar ataques de cães a crianças, muitas vezes levando tais crianças à morte. Os relatos são os mais cruéis possíveis, e os donos de cães de raças consideradas ferozes começam a ser tratados pela população em geral como se fossem verdadeiros terroristas. Raros são os donos de pitt bulls que passam incólumes às ruas e praças; na grande maioria das vezes, são mal tratados por pais e mesmo por donos de cães de raças consideradas mais mansas.

Toda essa crueldade e horror só contribuem para que tenhamos mais dificuldade de avaliar o problema com sensatez e tranqüilidade, fazendo com que vejamos tudo isso sob o véu de um grande preconceito.

Não estou aqui para dizer que os cães são uns coitadinhos, e as crianças uns diabinhos. O fato é que só poderemos avaliar a questão de forma sensata quando pararmos de ver toda esta questão fora do contexto “do bem ou do mau”. A primeira coisa a fazer é entender o porquê destes ataques, e o porquê das vítimas serem majoritariamente crianças.

Os Cães

Não é a raça do cão que irá determinar se ele será agressivo ou não com as crianças. É lógico que existem algumas raças que naturalmente têm mais paciência com as crianças. Labradores, Pastores Alemães, Boxers, entre outros, são as raças mais recomendadas para casas com crianças. Porém o que determina este comportamento agressivo são fatores muito mais ligados ao dono do cão, do que ao cão em si.

Cães que atacam crianças são cães que nunca foram socializados; muitos destes cães raramente saem de casa, e passam o dia inteiro sozinho em quintais minúsculos. Portanto, nem mesmo sabem que aquele humano-miniatura é um “filhote”. Para eles trata-se de um humano de formato estranho, só isso!

Às vezes até houve um trabalho de adestramento com eles, mas nunca houve uma real liderança do proprietário sobre o cão – restringindo-se a um trabalho onde só o adestrador tem controle do cão. Não é raro, inclusive, que tais proprietários incentivem o comportamento agressivo e voluntarioso do cão - algumas vezes de forma clara, outras sem nem mesmo perceber . Tais comportamentos são interpretados erroneamente como sinais claros de que o cão tem as características ideais para ser um bom cão de guarda. Mal sabem eles que é exatamente aí que mora o perigo.

Em outras palavras, não dá para se esperar coisa muito diferente do que estas cenas trágicas, como conseqüência deste total descaso na educação destes cães. O que tais donos não percebem é que ao invés deles estarem criando um cão de guarda valente, eles estão criando um monstro selvagem, ser nenhuma referência de comportamento, por nunca ter tido um líder; e sem nenhuma capacidade se lidar com situações diferentes das quais ele convive em seu cotidiano, dentro de seu quintal. Para este cão,qualquer situação inesperada é ameaçadora; qualquer indivíduo diferente aos que ele conhece, é considerado inimigo. E para tais cães o inimigo deve ser eliminado sempre.

Então, se não é a raça que faz a diferença, e sim o temperamento do proprietário, porque tais manchetes quase sempre têm como protagonistas Pitt Bulls e Rottweillers?

Porque é muito comum que proprietários com tal perfil busquem propositalmente cães de raças naturalmente agressivas, e as raças da moda neste quesito têm sido estas. Quem não se lembra do tempo em que simplesmente dizer que um cão era Fila Brasileiro era sinônimo de fera? E tempo dos Dobermanns, dos Pastores Alemães, etc... O problema é que os Pitt Bulls e os Rottweillers equilibrados não aparecem nas manchetes dos jornais, só os assassinos. Com isso tem-se a sensação de que todos os exemplares destas raças têm o mesmo temperamento

É evidente que em qualquer raça, até mesmo em labradores, é possível que tenhamos um filhote com distúrbio de comportamento. Filhotes muito agressivos e dominantes.

Porém quando isso ocorre, o proprietário deve procurar um especialista em comportamento para fazer uma avaliação, e uma indicação de como lidar com isso.

No fim das contas, acabamos sempre esbarrando no papel do proprietário! Se ele é responsável, tudo vai bem, se não....

Porque Sempre Crianças ?

A maioria das crianças adora os cães. Não são poucas as crianças que assim que localizam um cão no ambiente em que estão, vão imediatamente brincar com ele. O problema é que muitas das vezes esta aproximação acontece da pior maneira possível: a criança chega muito perto do cão - sem saber se ele é manso ou não; chega abraçando, ou mesmo colocando-o no colo, assustando-o, e porque não dizer, desrespeitando-o.

É fácil entender que uma criança que gosta de cachorro não consegue imaginar que exista algum cão no mundo que não seja um grande amigo! Porém não podemos exigir que um cão possa entender isso.

Em alguns casos, ainda, temos crianças que se aproximam do ambiente do cão interessadas nos brinquedos dele, ou nos ossos, na bolinha. Mais uma vez esta aproximação é ameaçadora ao cão, que reage de acordo com seus instintos: defende o que é seu. Vamos lembrar que falamos de cães que nunca foram acostumados a lidar com situações diferentes às cotidianas.

Pra complicar um pouco mais, é importante dizer que crianças menores de 4 anos te muita dificuldade de perceber que quando o cão mostra seus dentes, não significa que ele está sorrindo! E nem todo o abanar de rabo é amigável. Tal criança se expõe ao perigo se nenhuma resistência.

Como Evitar Situações Perigosas ?

Quando lemos nos jornais a respeito destes ataques sempre há relatos de que o referido cão “nunca tinha atacado ninguém, ou dado qualquer sinal de agressividade”. MENTIRA! Normalmente tais cães dão contínuos sinais de sua instabilidade emocional, só o dono é que não quer ver. Este tipo de comportamento não ocorre por acidente! Cães que atacam são sempre irritadiços, mandões, e como o péssimo costume de resolver tudo na base da mordida ou da ameaça. Raramente seus donos conseguem dar qualquer ordem neles, ou em alguns casos só um membro da casa é capaz de dominá-lo. Enfim, são claramente animais que enfrentam todos, o tempo todo.

Se você é o proprietário de cão, é preciso ser responsável e fazer um bom trabalho de adestramento, socialização com o cão. Porém é fundamental que você exercite sua liderança DIARIAMENTE. Sendo seu cão de guarda ou de companhia, ele deve saber que quem manda é você. Você e seu cão só têm a ganhar com isso.

Se você é pai: conheça os cães da vizinhança; se você for com seu filho a uma casa que tenha um cão, certifique-se muito bem sobre o temperamento dele antes de expor seu filho a ele. Se ele não for acostumado a crianças ou não for bastante paciente, o melhor é ficar de olho no seu filho, evitando que ele chegue muito perto do cão.

O que devemos ensinar às crianças:

  • Nunca se aproxime de cães desconhecidos;
  • Sempre pergunte ao proprietário se o cão é de fato manso antes de se aproximar dele, ou mesmo tocá-lo;
  • Nunca pule cercas ou muros para acariciar um cão;
  • Fique longe de cães perdidos;
  • Não fuja de um cão, nem grite;
  • Se um cão atacar, proteja sempre seu rosto e pescoço; Se possível, jogue para ele sua mochila ou livro para distraí-lo.
  • Não brinque com um cão sem um adulto por perto;
  • Mesmo que o cão seja conhecido não vá até ele correndo e gritando;
  • Se você vir um cão perdido, ou com um comportamento estranho, avise um adulto;
  • Não perturbe um cão que esteja dormindo; comendo; ou cuidando de seus filhotes;
  • Não faça gritaria perto de um cão;
  • Não chegue perto de um cão ferido;
  • Não perturbe um cão com movimentos muito bruscos, ou muito barulho;
  • Nunca chegue o rosto muito perto de um cão;
  • Nunca pegue um brinquedo ou osso de um cão;
  • Nunca encare um cão.

Alguns desses ensinamentos são bastante rigorosos, porém nesses casos cautela nunca é demais.