Cães Solitários
A solidão é um problema cada vez mais freqüente
na vida de nossos amigos caninos. São cães cujos donos passam a maior
parte do tempo fora de casa, deixando-os sem companhia alguma, por várias
horas seguidas.
A coisa fica ainda pior quando falamos de
filhotes. Muitos só têm contato com as pessoas da casa por 4 ou 5 horas
diárias, no máximo. Privar um filhote deste contato pode gerar danos muitos
mais graves do que tais donos podem supor.
 O
cachorro é um animal social, e como tal precisa do contato com o grupo ao
qual pertence para aprender suas regras, comportamentos e rituais. Ao
trazermos um filhote para a nossa casa, passamos a constituir a matilha
deste filhote (“A
Importância da Liderança”). Seja
na matilha canina, ou na matilha humana, o filhote aprende através de
estímulos e reprimendas. Se este cão passa horas sozinho, ele não tem
nenhuma referência de comportamento, e, ainda por cima, "acha que" tem que
tomar decisões sozinho, uma vez que está "abandonado" pela matilha. Isso é
muito mais do que ele está preparado emocionalmente para agüentar. Sendo um
filhote, ele deveria estar sendo protegido e educado pelos membros mais
velhos da matilha. E não tendo que "se virar" sozinho.
Sozinho, tal
filhote não tem nem estímulos nem reprimendas. Com isso não tem qualquer
referência para aprender o que é certo e o que é errado. Os cães só aprendem
através de conseqüências imediatas, e qualquer atitude destes filhotes
solitários não têm qualquer conseqüência imediata, seja ela positiva ou
negativa. Esta falta de referência faz com que toda sua aprendizagem fique
comprometida, a começar pelo lugar certo para fazer xixi e cocô. Tais filhotes
raramente aprendem a fazer xixi e cocô no lugar certo.
Pensando bem...como se pode querer um bom comportamento de um cão que
passa a maior parte do seu tempo sem ser educado???
Além da questão do aprendizado, ainda temos a questão lúdica. Cães adoram
brincar! E precisam brincar muito para desenvolver as habilidades
necessárias para sua vida adulta. Neste quesito, os cães solitários perdem
também! Normalmente eles brincam pouco, têm poucos brinquedos e fazem
pouquíssima atividade física. É uma panela de pressão prestes a explodir!
Além da necessidade de se distrair, é muito importante lembrar que os
filhotes têm uma energia enorme, e precisam gastá-la brincando, correndo,
caçando, etc. Enfim, aprendendo o que puderem para serem realmente cães.
Tudo
isso somado não poderia dar em boa coisa. Filhotes solitários são
normalmente hiperativos e ansiosos. E não é à toa. São ansiosos porque
tentam ter a atenção de seu dono a qualquer preço, já que sofrem muito
durante o período em que são deixados sozinhos. Na percepção de um filhote,
é como se ele fosse abandonado todos os dias. E quando este dono chega em
casa, cansado, depois de horas no trabalho e no trânsito, este filhote fará
qualquer coisa para obter sua atenção. É como se ele tentasse compensar o
tempo passado sozinho.
Ele fará de tudo para que tal dono finalmente saiba
assumir sua posição de líder da matilha. E com isso temos um filhote que
sempre irá associar um ambiente calmo ao tédio,à solidão e ao medo. Por
conta disso ele dificilmente conseguirá ter um bom comportamento, tendo
sempre que estar fazendo alguma atividade. Tal cão quando adulto
dificilmente conseguirá ficar deitado ao lado do dono. Ele sempre exigirá
atenção total, o tempo todo. Cansativo, não??
Infelizmente existem
muitos mais cães neste estilo de vida do que gostaríamos de acreditar. Tais
donos não percebem que o contato social é tão importante para o
desenvolvimento físico e emocional de um cão, quanto dar vacinas, ração e
água. Muitos tentam se enganar procurando “qual a raça ideal para ficar
sozinho o dia inteiro?”. A resposta é simples: nenhuma, ou no máximo um cão
de PELÚCIA! Cães não foram feitos para viverem sozinhos. Se você quer um
animal de estimação que fique sozinho sem sofrer, é melhor escolher um gato.
São excelentes animais de estimação; muito carinhosos; aprendem a fazer xixi
e cocô no lugar certo, sem que precisemos ensiná-los; e ficam muito bem
sozinhos porque são animais muito mais independentes que os cães.
Muitos humanos, porém, preferem ignorar estes avisos, e só percebem o
quanto eles são verdadeiros quando o cão já está dando problemas em casa.
Para estes casos, algumas dicas podem ajudar bastante:
Dicas
-
Contrate
uma diarista, pelo menos três vezes por semana, em casa. Assim o cão terá
companhia regularmente, e aprenderá que ficar sozinho não significa
necessariamente que ele está sendo abandonado.
- Contrate um bom adestrador, que possa ajudá-lo a
ensinar ao seu filhote a se comportar e que, desta forma, estimule o cão a
utilizar a sua inteligência em seu benefício. (Não espere, no entanto, que
o adestrador vá resolver todos os seus problemas! No tempo em que você
estiver com seu cão VOCÊ precisa ter voz ativa com ele.)
- Procure se informar sobre pessoas que fazem
passeios diários com seu cão. É uma boa saída para mantê-lo fisicamente em
forma e menos ansioso.
- Não se esqueça, também, de dar muitos brinquedos
para distrair seu cão. Bolinhas; mordedores e ossos nunca são demais.
Tenha sempre uma surpresinha para eles. Evite ao máximo que ele fique
entediado.
- Procure não recompensar os maus comportamentos
de seu cão, dando atenção a ele sempre que ele apronta alguma. Leia as
matérias sobre “não pula”
e tente evitar os erros que todos cometem, recompensando o mau
comportamento.
- Leia, também, a matéria sobre ansiedade canina,
e tende, também, não recompensar o comportamento ansioso de seu cão.
Aprenda a só dar atenção a ele quando ele estiver calmo.
- NÃO caia na tentação de adquirir um SEGUNDO CÃO.
Você não só não resolverá o problema do primeiro como, provavelmente, terá
mais preocupações.
Faça
uma análise bastante honesta da vida que você está proporcionando ao seu cão,
e pergunte-se se é o melhor que ele merece ter. Será que ele merece mais? Será
que ele poderia ser mais feliz numa casa em que ele tivesse mais companhia,
onde pudesse brincar o dia inteiro?
Se sua resposta for sim, lembre-se que doar um cão pra alguém que tem
melhores condições de cria-lo pode ser um ato de amor, e não o de abandono.
Se sua resposta for não, fico torcendo para que você saiba driblar bem as
dificuldades desta situação
Boa sorte!
Maíce Costa Carvalho,
adestradora
maice@dogtimes.com.br
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