Depressão
Durante
muito tempo, tanto o grande público como os veterinários ignoraram que o cão podia
sofrer de estados depressivos. Qualquer diminuição voluntária da atividade motora era
atribuída a uma patologia subjacente ou ao envelhecimento. No entanto, a depressão já
era induzida experimentalmente em cães para o teste de novos medicamentos destinados à
psiquiatria humana.
As depressões começaram a ser diagnosticadas e tratadas há alguns anos, quando se
começou a desenvolver o estudo das patologias do comportamento. A depressão é um
estado particular das estruturas emocionais que se pode manifestar clinicamente de várias
maneiras. Por isso se fala em depressões em vez de depressão.
O sistema nervoso compõe-se de células especiais, os neurônios, interligadas por
prolongamentos citoplasmáticos, as dendrites, bastante curtas, e os axônios, multo mais
longos. Em cada ponto de "ligação" entre dois neurônios, existe um espaço
microscópico, o espaço sináptico, ocupado pelos transmissores químicos ou
"neurotransmissores. No indivíduo deprimido, o mau funcionamento das conexões
é devido a uma insuficiência de neurotransmissores, impedindo a condução normal do
impulso nervoso. É por causa disso que o indivíduo deprimido se torna indiferente ao
ambiente que o rodeia e incapaz de agir voluntariamente.
Assim, CITI todas as formas clínicas, o cão deprimido é um indivíduo apático,
inativo, que não se interessa absolutamente pelo que o rodeia e que manifesta um estado
de angústia permanente. No entanto, este estado pode se alternar com outros de
agitação, característicos de uma das formas clínicas.
Na realidade, existem diferentes formas clínicas da depressão, que passamos a
enumerar.
A DEPRESSÃO DE REAÇÃO
Como o nome indica, trata-se de uma depressão provocada por um stress ou um choque
emocional grave. Perante (qualquer agressão violenta, o organismo saudável pode
responder com um estado depressivo transitório, que não ultrapassa os oito ou dez dias e
evitando que o sistema nervoso receba uma sobrecarga de estímulos negativos. Esta
situação regride espontaneamente e, portanto, acredita-se que não é preciso tratar a
depressão reativa nos oito dias após o choque entoe tonal.
A depressão (isto, é reação do cão começará a ser patológica depois de
ultrapassado esse prazo. Caracteriza-se por uma indiferença total pelo que o rodeia; o
animal fica prostrado, deixa escapar alguns lamentos e não tem qualquer atividade, não
come e bebe muito pouco ou mesmo deixa de beber.
As causas podem ser divididas em dois grupos:
situações de perda, tais como o desaparecimento de um membro da família,
abandono, a morte de um semelhante ou de outro animal com o qual tinha uma relação
preferencial;
conseqüência de agressão, corno um treinamento violento, pequenos acidentes
na via pública, erros de educação acompanhados de castigos severos (violência) por um
comportamento agressor.
Se não houver uma volta espontânea à normalidade, ocorrera uma evolução para o
agravamento do estado depressivo, com passagem à outra forma de depressão que é a
regressiva.
O tratamento desta forma de depressão tem resultados muito satisfatórios, com
porcentagens de sucesso que variam entre setenta e oitenta por cento) dos casos, com
recuperação ao fim de quatro a seis semanas de tratamento (e supressão definitiva da
medicação). Consiste na administração de antidepressivos, geralmente associados a uma
terapia comportamental.
Qualquer cão em aparente estado de depressão de reação (ou de qualquer outra forma)
deve ser examinado por um veterinário, que verificará se não existe alguma causa para a
apatia. É importante assegurar-se de que o cão esteja se alimentando normalmente, caso
contrário, deve-se forçar a alimentação, podendo ser necessária a administração
parenteral.
A DEPRESSÃO DE REGRESSÃO
É uma depressão muito grave, caracterizada por um progressivo desaparecimento dos
comportamentos adquiridos (em particular as ordens simples e a higiene) e pelo regresso a
comportamentos infantis (em particular a exploração oral).
Afeta, principalmente, o cão muito velho (em geral, os primeiros sintomas aparecem por
volta dos sete ou oito anos) ou que já antes tenha tido uma depressão reativa. O animal
cessa, quase que totalmente, de se movimentar, chora durante horas, faz as necessidades
debaixo de si mesmo e engole tudo o que encontrar nos seus escassos deslocamentos. Não é
raro este cão precisar ser tratado pela ingestão de corpos estranhos.
A origens da depressão deve ser procurada em:
uma depressão de reação não tratada, com oito ou dez dias de existência;
um antigo estado ansioso que tenha evoluído, progressivamente, para a
depressão (processo de regressão).
uma síndrome de privação.
Quando o quadro clínico se completa, o estado do doente cessa de evoluir, embora esta
patologia seja de uma gravidade suficiente para modificar profundamente a vida do cão e
causar muitos problemas.
No entanto, o tratamento dá resultados espetaculares. Na realidade, registram-se mais
de setenta e cinco por cento de curas e o desaparecimento dos sintomas mais penosos em uma
ou duas semanas. Consiste, essencialmente, na administração de antidepressivos e
ansiolíticos, completada com ergoterapia. A sua eficácia será tanto maior quanto mais
precoce for a consulta.
Das patologias depressivas que não parecem estar associadas a qualquer predisposição
genética, duas já foram vistas. A primeira é a depressão reativa, que, em um estágio
primário, pode ser uma reação de proteção do organismo, sendo por isso
espontaneamente reversível. A segunda, a depressão de involução, é um agravamento da
depressão reativa quando não ocorre a regressão, acarretando um estado de extrema
desestruturação psíquica. Fora estes dois casos, os outros tipos de depressão
verificados no cão adulto parecem estar associados a algum fator hereditário.
 A DEPRESSÃO CÍCLICA
A depressão cíclica, relativamente freqüente, afeta os indivíduos entre os sete e
os dez anos, observando-se mais nas fêmeas (65 a 67,5%) do que nos machos (32,5 a 35%).
Caracteriza-se pela sucessão de ciclos de depressão e de hiperatividade
estereotipada, com uma duração que vai de quinze dias a dois meses. As fases de
depressão não se manifestam de um modo especial e o animal apresenta as características
reativas de todos os cães deprimidos (indiferença, tristeza, anorexia, perda dos
comportamentos aprendidos).
Em compensação, as fases de hiperatividade estereotipada são surpreendentes. O cão
apresenta um período de hipersensibilidade a todos os estímulos. Mostra-se muito
expansivo, ofegante e está sempre alerta. As suas horas de sono reduzem-se muito:
já se observou um exemplar que dormia apenas três horas por dia e que não parecia
absolutamente cansado. A manifestação mais típica, no entanto, é, sem dúvida, a
repetição de uma mesma seqüência comportamental, que se classifica como estereotipada,
durante os períodos em que o animal está intensamente estimulado. Este estado pode se
revelar em um grande número de atividades: dar voltas atrás da própria cauda, levantar
ritmicamente uma pata, dar pequenas mordidas em um objeto, caminhar durante horas seguindo
um mesmo trajeto. As fêmeas são particularmente afetadas e tem-se observado o
aparecimento da doença em fêmeas de três gerações sucessivas da mesma linha.
 O que você deve saber sobre
Anti-depressivos:
Só devem ser utilizados quando prescritos pelo médico veterinário. Cabe a ele
escolher o adequado e estabelecer a dose de acordo com o peso do animal.
Oefeito dos anti-depressivos não é imediato. São necessários alguns dias para que o
medicamento atinja os níveis eficazes. Eles podem causar dependência e não se deve
parar bruscamente de administrá-los ao animal. A dose deve ir diminuindo
progressivamente, até que seja totalmente eliminado, se possível.
Coleção Nossos Amigos, os
Cães
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