Cães que enfrentam seus donos


 

Não é raro vermos cães dominantes que enfrentam seus donos rosnando, latindo e até mesmo mordendo-os.  Esta reação não começa de um dia para o outro, e nem tem todo o crédito no temperamento do cão. Este tipo de situação tem a colaboração dos dois lados do problema, pois temos de um lado o cão audacioso, e do outro um dono que não responde à altura da ameaça seja por medo; por achar que tal reação do cão não tenha grandes conseqüências; ou por simples negligência. Por um motivo ou por outro, esta situação é a que gera os maiores problemas no que diz respeito à dominância e agressividade canina.

Cada vez que recuamos à ameaça de um filhote estamos não só confirmando que ele é o líder, como também reforçando que a liderança deve ser alcançada na base da ameaça e agressão. Pois para este filhote fica claro que o enfrentamento e a agressão são recompensados.

Um rosnado nem sempre é uma ameaça

Latidos, choros e rosnados são sons normais que os cães emitem, e os filhotes brincam com estes sons - da mesma forma que o bebê brinca com a própria voz antes de aprender a falar.  Ao brincar com seus irmãozinhos de ninhada, todo filhotinho rosna e late bastante em suas brincadeiras, e tais sons são muito bem-vindos, pois fazem parte do desenvolvimento do cão, da mesma forma que ele brinca de luta e de caça.  Tudo isso faz parte do aprendizado do cão.  Portanto, o filhote que rosna ao brincar de cabo de guerra com seu dono não necessariamente é dominante e agressivo, pode tratar-se simplesmente de um filhote brincando de lutar.

Outro ponto importante é que o rosnado muitas vezes é o som que o cão emite ao se ver contrariado, sem que isto signifique necessariamente um enfrentamento ou ameaça.  Já vi um filhote rosnando para o bebedouro só porque a água havia acabado. O rosnado veio por conta do cão se sentir frustrado!  E tal frustração se deu única e exclusivamente porque as coisas não estavam acontecendo do jeito que ele previa. Ele lambeu o bebedor, e nele não saiu água, então o filhote não gostou. Ele não avançou no bebedouro, nem nada no gênero. Só rosnou mostrando contrariedade.

Enfrentamento

Outra coisa completamente diferente é o filhote que não suporta ser mandado e enfrenta seu dono sempre que este lhe impõe limites, ou lhe dá ordens.  Aqui a variedade é enorme: vai desde o cão que rosna quando alguém pega um brinquedo dele; o cão que rosna quando o dono lhe diz “NÃO”; o cão que morde o dono quando este o tira do sofá, ou tenta colocá-lo para fora de casa. E ainda há os “reis da casa” que não deixam ninguém sentar no sofá quando ELE quer deitar lá; ou ainda os que não deixam ninguém se aproximar de determinada pessoa da casa que ele elege como “DELE”.

Como já foi dito, o cão não começa a enfrentar o dono de uma hora para outra.  Ele começa aos poucos, e vai testando pouco a pouco o quão firme é a liderança deste dono, e cada vez que o dono cede aos desejos do cão, este vai se sentindo mais importante na matilha ao mesmo tempo em que o dono desce um degrau na hierarquia. Cada vez que este dono recua frente ao rosnado do filhote, ele reforça a este filhote que ameaçando, ou mesmo atacando, ele conseguirá o que quer.

Filhotes:

A atitude certa nestes casos é brigar com o filhote, da mesma forma que faríamos com uma criança que nos enfrenta.  Uma bela bronca neste filhote é fundamental para mostrar que ele não tem direito algum de questionar a decisão do líder. Caso o filhote seja insistente, deve-se conter o filhote pressionando seu focinho – tal qual um cão faria com seu filhote. Envolva o focinho do seu cão coma mão fazendo com que o polegar e o dedo indicador fiquem um na parte de cima do focinho e outro na parte de baixo.  Faça uma leve pressão com os dedos e diga “NÃO”! Se ele ficar muito agitado, ele deve ser contido junto ao chão até que se acalme e só então ele deve ser gradativamente liberado.  O ideal é que se contenha o focinho por um lado, e o resto do corpo do outro.  Aqui vai mais um motivo para começar cedo esta contenção: quanto menor for o filhote, mais facilmente ele será contido.  Em casos extremos você pode usar o seu corpo para conter o filhote, sempre cuidando para não machucá-lo.  O objetivo aqui é contê-lo, e não puni-lo.  Vá soltando o filhote vagarosamente. Comece soltando o corpo, e se ele se agitar novamente volte a contê-lo e a dizer “NÃO”.  SE você começar a soltá-lo e ele permanecer calmo fale com ele num tom calmo e baixo elogiando-o. Faça carinho e, aos poucos, vá soltando-o.  Com esta atitude você mostra claramente a ele que uma atitude submissa ele será recompensado, e que uma atitude dominante não será tolerada.

Caso este filhote seja muito dominante é provável que ele volte a enfrentar este dono para se certificar da liderança do dono.  E sempre a atitude a ser tomada deve ser a bronca e a contenção.

Nunca é demais lembrar!  A bronca deve cessar imediatamente à mudança de atitude do cão.  Jamais continue a brigar quando ele se acalmar, pois isso confundirá a cabeça dele.  Para que ele entenda o que você quer dele, você precisa ser absolutamente claro: atitude dominante gera bronca e contenção; atitude submissa gera carinho e liberdade.

Quando o cão já é adulto

A maioria dos donos que cedem aos comandos de um filhote acha que com a maturidade o filhote irá mudar de atitude, e que tal enfrentamento nada mais é do que uma adolescência canina. Isto é uma meia verdade!  Da mesma forma que ocorreria na matilha, os jovens adultos dominantes tentam galgar degraus na hierarquia, mostrando que não são mais simples filhotes. O problema é que tal atitude não se dissolve com a idade! Aqui, mais uma vez, temos que agir como os canídeos, e mostrar ao aspirante a líder que, jovem-adulto ou não, a posição de líder da matilha já tem dono, e não é ele.

A questão piora bastante quando falamos de machos muito dominantes, porque na sociedade canina é normal que os machos periodicamente lutem pela liderança.  Em outras palavras, isso significa que este cão tentará roubar a liderança de seu dono de tempos em tempos.  Nestes casos, a solução mais satisfatória é a castração do macho.  Com o fim da produção dos hormônios masculinos a agressividade diminui muito, e esta tendência de enfrentar o líder acaba.

De modo geral, porém, a grande saída para resolver o problema é reforçar a liderança. E isso deve ser feito mudando-se radicalmente de atitude com relação ao cão.  Tal cão deve ser ignorado o máximo possível pelos membros da casa sempre que se comportar mal. A atenção dos donos deve ser a grande recompensa para ele para quando ele se comportar de forma calma e submissa. Lendo a matéria “ENTENDENDO A LÓGICA CANINA” você poderá entender bem como funciona esta relação de recompensa e punição. É recomendável, também, que se contrate um adestrador para que ele ajude dono do cão a trabalhar esta agressividade do cão, ao mesmo tempo em que corrige os erros de atitude do dono que levaram o cão a tal comportamento.

Boa Sorte

Maíce Costa Carvalho, adestradora
maice@dogtimes.com.br