Fraturas Dentárias: O que fazer?
Num exame clínico realizado pelo Médico Veterinário, ou mesmo em casa, você descobre que seu animalzinho tem um dente quebrado. O que fazer? Como saber se ele sente dor? Com qual urgência deve ser levado ao veterinário? A dor sentida no momento da fratura é semelhante a dor provocada pela cárie profunda (em seres humanos). O estímulo doloroso atinge a polpa dentária, presente no interior do dente, popularmente chamada de "nervinho". A polpa é o tecido vivo, responsável pela nutrição, amadurecimento e sensibilidade do dente. Constitui-se de vasos sangüíneos, linfáticos, feixes nervosos e tecido conjuntivo frouxo, que compõe o Sistema Endodôntico. Todos os dentes são susceptíveis de serem fraturados, no entanto, os dentes caninos inferiores e superiores, seguidos dos quarto-pré-molares e incisivos são os que mais apresentam tal tipo de lesão. Em felinos, os dentes mais atingidos são os caninos. Como os cães e gatos fraturam seus dentes ? Normalmente quando roem brinquedos muito duros, ossos ou mesmo grades, brincando com freesbies e até em brigas. Outra causa são os acidentes, atropelamentos ou queda de grandes alturas. Nos casos onde o dente é fraturado ocorre uma exposição desta polpa a microorganismos e restos de alimentos que irão ocupar esse canal pulpar (figura 1). Quando isso ocorre, seu animal sentirá desconforto, dificuldade de apreender objetos e alimentos. Ao utilizar os dentes para a mastigação, ele sente dor. Com a morte da polpa (figura 2) a dor tende a cessar e o animal volta a se alimentar normalmente, não sentindo mais incomodo ele estará "aparentemente" sadio. Este é o principal motivo do proprietário não notar que seu animal está com um dente fraturado.
Devemos ou não tratar este dente fraturado? Vamos pensar o seguinte: aquele espaço onde estava presente a polpa, o canal, agora está preenchido por tecido morto e detritos. Para as bactérias, este espaço é tudo o que elas queriam e não contentes com isso, elas tendem a se dirigir à extremidade da raiz, invadindo o osso em torno do dente, desenvolvendo uma lesão periapical (osteólise). Esta lesão progride para um abscesso, podendo formar uma fistula dentro ou fora da boca. A mais conhecida pelos Médicos Veterinários é a "Fístula do Carniceiro" (figura 3), que comumente surge na região infra-orbitária devido a problema endodôntico no dente carniceiro (4º pré-molar superior). Se tudo isso ainda não foi suficiente para convencer de que realmente é necessária a realização do tratamento do canal, deve ser lembrado que as bactérias ali presentes acabam indo para a circulação sangüinea podendo causar lesões em outros órgãos como rins, fígado e coração. Uma pesquisa recente demonstrou que 40% das endocardites (problema cardíaco) em humanos estão diretamente relacionados com as más condições de saúde bucal. Assim o tratamento do canal também se faz necessário para prevenir afecções sistêmicas. Conhecendo os malefícios que um dente fraturado pode causar, concluímos ser importante a realização do tratamento de um dente fraturado para eliminar o foco de infecção. O tratamento preconizado até certo tempo atrás era a extração dentária (exodontia). E é realmente uma opção, mas hoje em dia, existe a possibilidade de realizar um tratamento endodôntico. Desta forma é possível manter o elemento dentário desempenhando suas funções de mastigação, apreensão e estética. Além disso, dependendo do dente, a cirurgia de extração é muito mais complicada e traumática, para o animal, que a de tratamento endodôntico. O tratamento de canal (figura 4), na Odontologia Veterinária, é realizado em uma única sessão, onde o dente tem seu interior desinfetado (retira-se o material necrótico e contaminado), em seguida é preenchido com material obturador (figura 5) e restaurado com resina, amálgama ou prótese metálica (figura 6). Isto só é possível pelo fato do procedimento ser realizado sob anestesia geral, logo, não é conveniente submeter nosso paciente a várias sessões, como é feito na Odontologia Humana.
Com isto, podemos considerar que a Odontologia vem se firmando dentro da Medicina Veterinária, não se resumindo a simples "limpeza de tártaro", propondo novas terapias para antigos problemas, e oferecendo uma melhor qualidade de vida para nossos queridos companheiros, sejam cães ou gatos. Prof.Dr.
Marco Antonio Leon-Roman |