A lágrima tem um papel muito importante. Dentre outras coisas, ela lubrifica a superfície ocular e o excedente é levado até o focinho por meio de um canal denominado ducto nasolacrimal. É bastante fácil entender este processo. Basta lembrar que quando choramos, o excesso de lágrima sai pelo nosso nariz, não é mesmo? Pois bem, esta enfermidade é denominada cromodacriorréia ou simplesmente síndrome da lágrima colorida, e se traduz clinicamente por manchas nos pêlos faciais criando uma faixa lacrimal de cor marrom avermelhada (bem evidente em animais de pêlo branco), devido a oxidação da lágrima. Esta síndrome ocorre principalmente em raças miniaturas como Maltês, Yorkshire terrier, Poodle Toy e raças braquicefálicas (aquelas com o focinho achatado) como Pug, Buldog e gato Persa. As causas deste extravasamento lacrimal podem ser congênitas, ou seja, o animal já nasce com o problema (má formação do ducto nasolacrimal, defeitos palpebrais, por ex.), que neste caso será notado logo nos primeiros meses de idade, ou podem ser adquiridas (como por ex., conjuntivites ou produtos químicos no ambiente, que irritam bastante os olhos). Estudos recentes também têm relacionado fatores nutricionais e variação da flora bacteriana local como possíveis causas. A primeira providência do proprietário ao observar essa mancha ao redor dos olhos de seu amiguinho é levá-lo a uma clínica veterinária, onde serão realizados exames específicos para verificar a capacidade de drenagem e de produção da lágrima, assim como determinar a causa e gravidade do problema. O tratamento vai depender da intensidade da enfermidade. Em casos mais brandos, pode ser indicada apenas correção do problema primário (tratar a conjuntivite, mudar os produtos de limpeza), ou mudanças na dieta associado a medicação tópica. O uso de medicação por via oral pode ser efetivo na diminuição da mancha, provavelmente porque altera a composição lacrimal. Mas é bom ficar atento. Dependendo do caso, quando suspensa a medicação o processo tende a retornar ainda mais severos. Também existem no mercado produtos de aplicação externa que corrigem a cor da pelagem, e impermeabilizam a superfície do pêlo, evitando contato com a lágrima. Vale lembrar que esses produtos podem corrigir provisoriamente a estética, mas não eliminam a causa da doença.
Em casos mais graves, é necessário restabelecer o fluxo lacrimal normal, seja através de lavagem para remoção de debris, seja por meio cirúrgico. O ato cirúrgico requer material especial para uso oftalmológico e um cirurgião com treino em microcirurgia. Porém, a cirurgia é pouco realizada devido a complexidade da técnica aliada as complicações pós-operatórias, incluindo o temperamento do paciente (facilidade para dono aplicar as medicações). Sendo assim, quando não for possível a cirurgia, cabe ao veterinário buscar meios alternativos para solução da epífora de modo a estabelecer o conforto do animal e a satisfação do proprietário. Para os donos de Pet, fica um alerta: Não mediquem seu amiguinho por conta própria, ou com tratamentos caseiros de que ouviu falar, pois em vez de solucionar, pode agravar o problema. Apenas o médico veterinário poderá determinar qual terapia é a mais indicada para o seu companheiro. Carla Diele, CRMV-RJ 6165 |