Leishmaniose

 

A Leishmaniose Visceral, também conhecida em muitas regiões como Calazar, é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoários flagelados do Gênero Leishmania. A transmissão e a infecção dependem principalmente de um vetor (condutor), no caso, um mosquito e de um hospedeiro vertebrado, que funciona como um reservatório da doença. Os insetos são pequenos, medem de 1 a 3 mm de comprimento, conhecidos popularmente por mosquito palha, apresentam o corpo coberto de pelos, e uma coloração castanho claro ou cor de palha.

São facilmente reconhecidos pelo seu comportamento, ao voar em pequenos saltos e pousar com as asas entreabertas. Adaptados a diversos ambientes, desenvolvem-se em locais terrestres úmidos, ricos de matéria orgânica e com baixa incidência luminosa. Com hábitos crepusculares, somente a fêmea alimenta-se de sangue para maturação dos ovos.

Os principais reservatórios envolvidos na transmissão da doença são: caninos, felinos, homem, roedores, edentados, marsupiais, procionídeos e primatas. O cão doméstico, é apontado como a principal fonte de infecção para os flebotomíneos, quer pelo alto índice da doença neste animal em área endêmica, quer pela grande quantidade de parasitas presentes na pele do mesmo.

O período de incubação da doença em animais naturalmente infectados é variável, e estes podem apresentar sintomatologia em 3 meses ou até 7 anos, levando a diferentes apresentações clínicas.

A leishmaniose canina se caracteriza pela sua enorme variabilidade clínica e lesional, devido  basicamente a fatores individuais relacionados exclusivamente ao tipo de resposta imunológica desenvolvida, grau de infestação, tempo de evolução da enfermidade e aos órgãos afetados.

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Sintomas Clínicos

Com relação ao seu quadro clínico, os cães infectados pela leishmaniose podem ser sintomáticos, ou seja, apresentando sinais da doença (visualmente ou por alterações sanguíneas); ou assintomáticos, caso não apresentem nenhuma alteração.

Ainda que doentes, os cães podem obter cura clínica e epidemiológica, ou seja, não apresentarem mais sinais clínicos e nem mesmo serem transmissores.

Não existem sinais específicos para a leishmaniose e deve-se sempre procurar por diagnósticos diferenciais, ter certeza se aquele animal está doente em consequência da leishmaniose ou de outra doença.

Por ser uma doença multissistêmica seus sinais são bem variados e inespecíficos no cão. Os sinais clínicos mais comuns são lesões de pele, linfadenomegalia (aumentos dos linfonodos), emagrecimento, atrofia muscular, onicogrifose (crescimento das unhas), lesões oculares, anemia e doença renal.

Podem apresentar descamação, ausência de pelo localizada ou generalizada, com ou sem presença de úlceras, pústulas ou nódulos.

As manifestações oculares mais comuns são devido a inflamação da pálpebra, conjuntiva, glândula lacrimal ou estruturas internas do olho, podendo levar o animal a diminuição ou perda da visão. A doença renal é a principal causa de morte nos cães com leishmaniose visceral.

A leishmaniose é uma doença inflamatória, sistêmica e crônica, que pode envolver qualquer órgão, tecido ou fluido corporal. Sua apresentação clínica é bem variada, inespecífica e mimetiza qualquer outra doença.

O clínico deve estar bem preparado para diferenciá-la de outras doenças como dermatofitose, sarnas, demodicose, doenças autoimunes e hormonais, erliquiose, babesiose e outras doenças transmitidas por vetores, linfoma e outras neoplasias, distúrbios metabólicos entre outras.

Conhecer a apresentação clínica e o correto diagnóstico é o primeiro passo para a condução consciente do paciente.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da leishmaniose visceral canina (LVC) deve seguir uma sequência de eventos  investigativos, associado a presença de sinais e sintomas indicativos da doença, além da confirmação pelos exames laboratoriais.

A investigação começa com o histórico do cão em residir, frequentar ou até mesmo transitar por regiões endêmicas para a enfermidade, fase essa conhecida como diagnóstico epidemiológico.

Os principais  sinais e  sintomas indicativos da LVC  são: perda de peso progressivo, lesões em pele  (descamação,  perda  de  pelame,  feridas  ulcerativas),  crescimento exagerados  das  unhas (onicogrifose), aumento dos gânglios linfáticos (linfonodos), entre outros. Porém estes sinais e sintomas  podem  ser  observados  em  outras  doenças  que  acometem  os  cães,  por  isso  são apenas indicativos e não conclusivas de LVC.

Os exames laboratoriais específicos podem ser divididos em dois grupos:

  • pesquisa indireta, realizada por meio de ensaios sorológicos (RIFI) e imunoenzimáticos (ELISA, os quais detectam a presença de anticorpos contra o parasito. Os anticorpos são  formados  quando  o  sistema  imunológico  entra em  contato  com  o  parasito  e estabelece uma determinada resposta.
    Quando  o  resultado  for  NÃO  REAGENTE, está  associado  a  ausência  ou  a  pouca quantidade de anticorpos para o teste detectar (animais negativos que não entraram em  contato  a  Leishmania sp,  início  de  infecção  ou  animais  anérgicos); quando  for REAGENTE, houve contato  com  o  antígeno  causador  da  LVC    ou  pela  presença  de reação  cruzada,  quando  anticorpos  contra  outros  agentes  infecciosos  (Ehrlichia, Babesia,  Trypanosoma,4 Leishmania4 brasiliensis,  entre  outros)  podem  reagir  com  o antígeno causador da LVC. A pesquisa indireta pode propiciar resultados FALSO negativo e positivo, portanto não é indicada para determinar a eutanásia de cães.

  • pesquisa  direta  do  parasito,  realizada  principalmente  pelas  técnicas  dos  exames  citológico, histopatológico e imunoistoquímica. Essas  técnicas  são  consideradas  como  as  mais  eficientes  para  o  diagnóstico,  pois  se visualiza o agente causador da enfermidade, não deixando dúvidas com relação ao cão realmente estar com LVC. Porém, não é fácil a observação do parasito, isso ocorre em 50 a 80% das amostras obtidas, dependendo da técnica utilizada. Quando se tem a pesquisa de anticorpos positiva para Leishmania, indica\se a pesquisa do  parasito  como melhor  método de  contraprova  para  se  firmar  o  diagnóstico  da LVC.

Vale ressaltar que a visualização do parasito é a melhor forma de concluir o diagnóstico da LVC, porém isso nem sempre ocorre. Dessa forma, recomenda;se associar o maior número de evidências e exames laboratoriais para se chegar a um diagnóstico conclusivo, já que no Brasil existem restrições ao tratamento, adotando-se como principal medida de controle a eutanásia.

TRATAMENTO

O tratamento da leishmaniose canina vem sendo realizado no mundo inteiro desde 1960, como forma terapêutica e preventiva da doença, com implicações diretas na redução da prevalência humana. Na Europa, especificamente na França, Itália, Espanha, e Portugal, existem drogas leishmanicidas específicas para o tratamento canino (Glucantime®-Merial; Milteforan®- Virbac).

No Brasil, há mais de 50 anos as autoridades de saúde praticam a eliminação de cães positivos, apoiados em um decreto de 1963 (Decreto 51.858). O crescimento da doença comprova a ineficácia dessa questionável política.

Diversas pesquisas no Mundo e no Brasil demonstram que o animal, tratado e controlado, não é infectante, não oferecendo risco à Saúde Pública.

A LVC é uma doença tratável, apresentando cura clínica (desaparecimento de sinais clínicos), mas, raramente, a cura parasitológica (o parasita permanece no organismo do animal/ser humano). Este fato não é preocupante nem incomum, já que em doenças causadas por protozoários – como são as
Leishmanioses – a Doença de Chagas e a Toxoplasmose não existe a eliminação completa do parasita no cão ou no ser humano.

O homem e o cão podem viver normalmente, mas devem fazer acompanhamento periódico para que a doença não volte a se manifestar.

No Brasil, estudos demonstram que o tratamento de cães portadores do parasito com a vacina Leishmune® tem apresentado bons resultados. A vacina Leishmune® usada em dupla concentração associada à quimioterapia com alopurinol ou anfotericina b, reduziu os sinais clínicos e a evidencia do parasito, modulando a evolução da infecção e o potencial de infecciosidade para flebótomos.

A causa da morte na leishmaniose visceral humana e canina é a lesão renal ou do fígado, por isso a importância do acompanhamento pelo médico veterinário que fará exames periódicos no animal (a cada 3 – 4 meses).

O cão portador da LVC fará acompanhamento contínuo. Caso ele venha a apresentar exame sorológico negativo, o veterinário deverá avaliar se continuará ou não a medicação; porém o monitoramento através de exames deve ser feito a cada 6 – 12 meses como forma de evitar recidivas da doença.

De qualquer forma, TODOS os cães – infectados ou não – devem usar repelentes para evitar as picadas do mosquito-palha por toda vida.

Prevenção

Para evitar a disseminação dos focos da doença no país e a consequente contaminação dos animais, é fundamental que os proprietários adotem atitudes preventivas.

Proteção para o cão

Existem várias formas de prevenção da Leishmaniose Visceral Canina:

1) Vacina: Iniciar a vacinação em cães a partir dos 4 meses de idade, saudáveis e previamente testados para Leishmaniose Visceral Canina. O protocolo completo é de 3 (três) doses, com intervalo de 21 dias entre cada aplicação. Revacinação Anual: A revacinação deve ser feita 1 (um) ano após a primeira dose – repetida anualmente – bastando 1 (uma) dose de vacina para manter o animal imune.
Caso a revacinação não seja feita até o período indicado, o protocolo inicial de 3 (três) doses deverá ser feito novamente

Considerações:

  • A vacina é apenas para cães saudáveis e soronegativos para Leishmaniose Visceral
    Canina.
  • É obrigatório fazer exame sorológico antes da vacinação, para detectar os cães previamente infectados.
  • O cão só é considerado protegido 21 dias após a terceira dose de vacina. Até que se cumpra esse período (63 dias após primeira dose) o animal poderá contrair a doença, portanto outras medidas de prevenção (vide mais abaixo) devem ser adotadas até o esquema vacinal estar completo.
  • A vacina contra Leishmaniose Visceral Canina promove entre 92% e 95% de proteção. Assim, apenas uma minoria de cães não responderá à vacinação, caso siga o programa vacinal completo. Cães de áreas com grande incidência da doença devem implementar outras prevenções em conjunto.

2) SpotOn a base de imidacloprida e permetrina: O produto deve ser aplicado na nuca do cão, diretamente sobre a pele. A utilização a cada 4 semanas repele e mata o inseto por contato.

3) Spray a base de permetrina: Protege os cães contra o mosquito por até 7 dias. Deve ser usado em animais a partir de 3 meses de idade. Ação imediata após a aplicação.

4) Pour-on a base de permetrina: Repelente aplicado no dorso de cães a partir de 4 semanas de idade. Deve ser usado mensalmente, conforme recomendação do fabricante.

5) Coleira a base de deltametrina: Pode ser usada por cães a partir de 3 meses de idade e protege por até 6 meses. Tem ação repelente e inseticida.

Medidas adicionais de prevenção:

  • Mantenha o animal dentro de casa ao entardecer (entre 18:00 e 06:00 hrs). Não leve o cão para áreas endêmicas (cidades onde a doença já existe). Coloque telas nas janelas e no canil, espalhe vasos de citronela pelo quintal.
  • Limpe seu quintal. Recolha folhas, flores e frutos caídos, e as fezes dos animais; feche bem o seu lixo. Incentive todos os vizinhos a fazerem o mesmo.
  • Denuncie e combata o desmatamento de áreas verdes em seu município. Esse é um dos fatores que contribui para a proliferação dos mosquitos nas áreas urbanas.
  • Exija que sua prefeitura execute o programa de controle do mosquito transmissor. Isso inclui recolhimento das folhas, controle da exposição de matéria orgânica (lixões, aterros sanitários, granjas e terrenos baldios) e detetização das casas.

Repelentes Naturais

Plantas com propriedades repelentes podem ser plantadas ao redor da casa, como é o caso da citronela e o neem. São medidas auxiliares no combate à doença, que não substituem produtos que comprovadamente repelem e matam o mosquito.

A citronela (Cymbopogon nardus) é bastante conhecida por seus efeitos repelentes, principalmente contra mosquitos e borrachudos. Contém grandes quantidades de óleo essencial Citronelal, utilizado em repelentes. Forma uma touceira densa, suas folhas são longas, com bordas afiladas e coloração verde clara, semelhante ao capim-limão. Possui perfume agradável e pronunciado.

Pode ser plantada em vasos e jardineiras, em canteiros adubados ou como bordadura em áreas grandes. O local de plantio da citronela deve ser favorável ao vento, para espalhar o odor que espanta o mosquito. O ideal é que se plante cada muda a um metro e meio de distância da outra em terreno com bastante sol, nos pontos mais propícios à presença de mosquito.

Produtos industrializados a base de citronela são usados em animais e também no ambiente, para lavar a área externa da casa, canil ou aplicados sobre telas protetoras, batente de portas e janelas. A Azadirachta indica, conhecida popularmente como NIM ou NEEM é uma árvore conhecida há mais de
2000 anos na Índia e outros países do Oriente, por suas propriedades medicinais de relevante importância para a saúde do homem, dos animais e das plantas.

Mais de 100 compostos bioativos já foram isolados na sua composição, sendo a azadiractina o principal componente do óleo de Neem. Este composto, classificado como um limonóide causa distúrbios fisiológicos, altera o desenvolvimento e a funcionalidade de inúmeras espécies de “pragas”, agindo sobre os processos reprodutivos, sobre a inibição do crescimento/desenvolvimento e motilidade do parasita, com efeito repelente.

O óleo de Neem é um inseticida totalmente natural, eficiente no combate a mais de 500 espécies de insetos e ácaros. É ideal para uso doméstico, já que é inofensivo ao homem e a animais.

Informações compiladas a partir do site: https://www.facebook.com/ocaonaoeovilao/app_470699656285132