Pessoas que tem medo de Cães


Se você for procurar no dicionário encontrará a seguinte definição: cinofobia - medo mórbido de cães. Nem todas as pessoas que temem os cães têm este chamado medo “mórbido”, doentio; há muitas variações da intensidade deste medo, e nem todo medo é ruim. Muitas vezes para nós que amamos cães fica difícil de entender o porquê deste medo, já que amamos tanto este peludinhos. O fato é que tal medo nunca é muito racional. Tais pessoas raramente compreendem os cães. A pessoa que tem medo sempre imagina que um cão, por mais manso que seja, possa de uma hora para outra atacá-lo ferozmente sem o menor aviso ou motivo. Não raro tais pessoas sofreram algum tipo de ataque na infância, ou se viram na eminência de um. Algumas pessoas têm um medo tão irracional que a simples visão do cão já lhe causa pânico, mesmo que o cão esteja preso, sem a menor possibilidade de nem mesmo chegar perto dela.

De uma forma ou de outra, é importante diferenciar o medo irracional e o medo real. Se vc depara com um cão potencialmente perigoso, o medo é que irá te ajudar a se manter em segurança. Não há nada de errado em se ter medo de um cão sabidamente agressivo, ou mesmo de um cão desconhecido. É sempre importante que se verifique com o dono se o cão é manso ou não. E na ausência de alguém que possa dar qualquer referência, o melhor mesmo é se afastar do cão.

Erros e Mitos sobre Medo de cães

A melhor forma de perder o medo é adquirindo um filhote:
Um mito que gera muitas confusões. Tudo começar na primeira vez em que o cãozinho – numa atitude completamente normal a qualquer filhote – rosna, ou mesmo morde o dono. Na visão deste dono tal comportamento é regido por uma tendência à agressividade do filhote, quando na verdade é simplesmente o filhote agindo da forma que ele conhece. Era assim que ele agia com seus irmãos de ninhada, e não vê motivos para não agir assim com seu dono. Com isso, este dono começa a ter medo do filhote, produzindo com isso um filhote tirano – já que percebe rapidamente que ao menor rosnado seu dono deixa que ele faça o que quiser; e no futuro um cão adulto – no mínimo - muito mal educado, pois seu dono teve medo de se impor, acreditando que poderia ser atacado.
É fundamental ressaltar que esta agressividade do filhote na maioria das vezes não tem origem no temperamento original dele, mas é conseqüência dos atos deste dono estabanado. O filhote rapidamente aprende que rosnando e/ou ameaçando morder seu dono ele terá o que quiser. Então ele entende que deve ser o líder desta matilha, e como tal deve impor as regras e limites através da agressão.
Para se ter uma idéia do quão prejudicial este cenário pode ser, não são poucas as histórias de filhotes bastante
medrosos e que acabam por virar cães agressivos. Eu pessoalmente vi alguns casos de filhotes extremamente medrosos – inclusive apresentando incontinência urinária, própria de cães medrosos – e que atacavam seus donos. Num desses casos, inclusive, o cão chegou a ser doado para outro dono que, mesmo tendo muita experiência com cães, não conseguiu lidar com seu comportamento agressivo. Conclusão: o cão teve que ser sacrificado. Nem parecia o mesmo filhote que no treinamento era muito bonzinho, e dócil. O que aconteceu? Dupla personalidade? Não! Simplesmente durante o treinamento não havia dúvidas para o filhote que eu era a líder, então ele se sentia seguro ao meu lado e trabalhava com tranqüilidade. Tudo o que um cão medroso precisa é de um líder firme. Porém, sua dona não soube jamais se impor como líder devido ao seu medo, então tivemos um filhote supermedroso tendo que chefiar uma matilha! Não podia dar em outra coisa.
Apesar de nem todas as histórias acabarem tão tragicamente, não são raras as histórias de cães medrosos atacando os donos que têm medo do cão, porém estes donos nem sempre assumem claramente o seu medo, ou até mesmo nem mesmo o percebem. Em certa ocasião só percebi claramente o medo dos donos ao saber – numa conversa casual - que quando era contrariado o cão chegava a morder os donos. Este mesmo cão jamais demonstrou qualquer tendência a dominância durante as aulas, tendo características claras de um cão submisso. O que acontece? A mesma coisa: os donos não assumem a liderança, não se impõem pobre o cão, e o este passa a acreditar que tal papel seja dele, mesmo não tendo o menor talento para tal. Por isso é tão importante que o adestrador veja de que forma o dono lida com o cão. Só assim as coisas ficam claras.

O cão reconhece quem tem medo dele, pelo cheiro:
É bastante comum você perceber que um cão muda de cheiro ao enfrentar alguma situação que lhe causa medo.  Muitos cães ficam fedidos quando vão ao veterinário.Ou durante uma chuva de verão, por causa dos trovões, ou coisa no gênero.  Ora, não há porque duvidar que de fato nosso cheiro mude ao sentirmos medo.  Todo o nosso metabolismo muda. Em alguns casos chegamos mesmo a suar, mesmo que esteja um frio intenso. 
Nesses anos todos em que venho lidando com cães, o que percebo é que até mesmo filhotes de quatro ou cinco meses, ou mesmo cães medrosos reagem de forma hostil a pessoas que têm medo deles. Tal fato me leva a crer que de fato o cão sente – não o medo – mas sim a hostilidade de tais pessoas a eles, daí esta reação de rosnar.  É como se ao exalar este cheiro nós humanos estejamos enviando a eles uma mensagem hostil, e eles reagem na mesma moeda.   Aí a coisa piora ainda mais quando o cão rosna, pois acaba por produzir ainda mais medo nesta pessoa, que acredita piamente que tal reação de deva a uma demonstração de superioridade do cão sobre a pessoa.Por fim isso tudo acaba por gerar uma inimizade eterna. 

Crianças que têm medo de cães devem ter mais contato com eles para perder o medo.
Nem sempre isso é verdadeiro!  Muitas vezes, aliás, pode ser até mais assustador.  Se já é difícil lidar com o medo de adultos, é preciso ainda mais cuidado com o medo infantil. O problema começa quando o cão quer brincar com a criança, e a criança, como tem medo, não percebe que tal aproximação é absolutamente amistosa.  Ela não entende que o cão não lhe fará mal algum, e fica cada vez com mais medo.  Quando falamos de cães grandes a coisa piora muito.  Raramente estes cães têm noção do seu real tamanho, e vão pra cima das crianças para brincar.  Quando a criança vê aquele bichão enorme vindo pra cima dela, ela começa a gritar de medo, e a coisa fica cada vez pior.  O melhor é deixar a criança à vontade para chegar perto do cão no momento em que ela estiver pronta.  Não force a criança. Isso pode piorar o medo ainda mais. O jeito mais seguro e fácil de vc promover a aproximação é usando um portão ou grade entre eles, mesmo que seja dessas portinhas que vc fixa no batente das portas.  Havendo esta proteção a criança pode chegar perto do cão, e até mesmo arriscar um carinho sem levar uma super lambida, ou mesmo um empurrão de um filhote mais animado. Com a grade o cão aprende que tem que ficar quietinho para poder chegar perto da criança, e esta aprende que pode chegar perto do cão sem temer ser atropelada por ele. Assim a criança vai gradativamente diminuindo seu medo, e quando estiver pronta chegará perto do cão sem se sentir tão ameaçada.

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Entendendo a lógica canina
Cães e Bebês

Cães e Crianças - Parte I
Cães e Crianças - Parte II
Cães Medrosos - Agressividade e Valentia
Manual do Filhote - tudo o que você precisa saber para educar bem o seu filhote.

Boa sorte!

Maíce Costa Carvalho, adestradora
maice@dogtimes.com.br