por
Adriana Resende
Para o biólogo inglês Rupert Sheldrake, os bichos podem se comunicar por
telepatia com as pessoas. Segundo ele, os laços afetivos que unem os cães e
gatos aos seus donos criam o "canal para essa comunicação telepática". É
essa a tese dos "campos mórficos", que Sheldrake defende em seu mais novo
livro, "Dogs That Know When Their Owners Are Coming Home" (Cães que sabem
quando seus donos estão chegando em casa), publicado em Nova York (EUA) e
que será lançado no Brasil pela Editora Objetiva, no ano que vem.
Ainda segundo o biólogo, os animais têm um "comportamento antecipatório" e
podem adivinhar ou pressentir a chegada de seus donos.
Ele descarta que esse comportamento seja apenas o costume com a agenda
diária e atividades do dono, pois argumenta que os bichos pressentem a
chegada em qualquer horário e ainda longe do dono, sem que o animal sinta o
cheiro ou ouça ruídos familiares de carros, chaves, passos ou portas. Em
entrevista à Revista por telefone, Sheldrake defendeu sua teoria.
REVISTA
- O senhor tem animais?
RUPERT - Tenho um gato, um coelho e cuido de um labrador
que pertence a um amigo.
REVISTA
- Como é essa teoria dos campos mórficos?
RUPERT - Campos mórficos são laços afetivos entre pessoas,
grupos de animais -como bandos de pássaros, cães, gatos, peixes- e entre
pessoas e animais. Não é uma coisa fisiológica, mas afetiva. São afinidades
que surgem entre os animais e as pessoas com quem eles convivem. Essas
afinidades é que são responsáveis pela comunicação.
REVISTA
- Em que o senhor fundamenta a sua teoria?
RUPERT - Pesquisei as atitudes dos bichos durante cinco
anos. Mais de 200 pessoas me deram seus depoimentos sobre a relação com seus
bichinhos e atestaram esse tipo de comunicação que eu explico no livro. A
partir dos relatos, levantei modelos gráficos do comportamento de vários
animais.
REVISTA
- Que animais seriam mais sensíveis à telepatia com os humanos?
RUPERT - Cachorros são mais sensíveis que gatos, que são
mais sensíveis que cavalos e papagaios.
REVISTA
- Por que os cachorros seriam mais sensíveis?
RUPERT - Porque eles têm mais relações afetivas e mais
proximidade com os homens. E a telepatia depende dessas relações de afeto.
REVISTA
- Que raças de cachorro seriam as mais sensíveis?
RUPERT - Nós não encontramos grandes diferenças entre as
raças que testamos.
REVISTA
- Em sua experiência com animais, o senhor já tinha ouvido falar desses
campos mórficos?
RUPERT - Campo mórfico é uma teoria que eu levantei para
explicar a telepatia entre homens e animais. As pessoas não falam de campos,
mas falam sobre o comportamento dos animais. Campo mórfico é uma denominação
que eu criei para isso.
REVISTA
- O senhor já teve suas próprias experiências de telepatia com animais?
RUPERT - Não, mas já vi telepatia entre animais e o meu
filho, porque nosso gato o esperava quando ele estava voltando da escola,
muitas vezes.
REVISTA
- Não seria por causa da rotina?
RUPERT - Independe da rotina do dono, não é
condicionamento, é pressentimento. Eles sabem.
REVISTA
- Que outras reações do seu gato o senhor já percebeu?
RUPERT - No carro, por exemplo, o gato sabe quando estamos
a cerca de dois quilômetros de casa. Ele está dormindo, e, quando a gente
chega perto, ele acorda. Contei isso no livro.
REVISTA
- Se um animal for roubado, por exemplo, é capaz de avisar ao dono por
telepatia?
RUPERT - Bem, nunca ouvi histórias de animais sequestrados
avisarem aos donos. Mas os donos, algumas vezes, sabem dizer se o seu
animalzinho está passando mal ou morrendo.
REVISTA
- Então, se o animal não está bem, ele pode mandar uma mensagem telepática
ao seu dono?
RUPERT - Pode.
REVISTA
- Que outros "poderes" os animais teriam?
RUPERT - Senso de direção e premonições. O senso de direção
depende de laços que unem o animal à casa. É um outro tipo de campo mórfico.
O animal está ligado à sua casa por esse campo. Por isso ele é capaz de
achar o caminho de casa. |
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Autor é cientista "renegado"
por Ricardo Bonalume Neto
Animais domésticos se
acostumam com o comportamento de seus donos, e aprendem a agir de acordo. E
muitos seres humanos tendem a ver nessas atitudes algo de especial. Foi mais
ou menos isso o que fez RUPERT Sheldrake em seu oitavo
livro, "Cães que Sabem Quando Seus Donos Estão Chegando em Casa".
Só que ele exagera. Acredita em uma espécie de telepatia animal, e coletou
supostos exemplos disso. "Especialmente porque a afeição das pessoas por
seus animais domésticos muitas vezes toma a forma de projetar neles uma
perceptividade humana ou mesmo sobre-humana, mesmo mais de mil registros no
website de Sheldrake não provam telepatia" escreveu o editor-emérito da
revista científica "Nature", John Maddox, em uma devastadora resenha do
livro.
Faltam experimentos-controle, falta tentar entender todas as variáveis
envolvidas, falta o simples bom senso de procurar explicações não-místicas.
Maddox, que dirigiu a "Nature" por 23 anos e transformou a revista em uma
das mais importantes do planeta, diz que as teorias de Sheldrake estão para
a ciência como a medicina alternativa para a medicina de verdade.
O autor do livro é um renegado da ciência. Ele era um cientista normal, com
um PhD em bioquímica pela Universidade Cambridge, quando passou a escrever o
que Maddox chama de "literatura de aberração intelectual".
Minha clássica gata preta, Minolda, passa o dia fora de casa. Acostumou-se a
vir de noite para comer _e muitas vezes percebe a minha chegada em casa. Já
o meu também preto cachorro, Rommel, uiva toda vez que eu saio de casa. Ele
"sabe" quando vai ficar sozinho e reclama. Ainda não me mandaram mensagens
telepáticas.
"Mude a ração, essa tem um gosto horrível"; "ei, que tal um pouco mais de
carne e menos arroz?"; "nem pense que eu vou tomar banho hoje". Ou os
animais de um cético também seriam céticos?

A fotógrafa Christiane
Bodini, 45, acredita que seu dach Sunny Boy, 5, pressentiu a morte do
marido, o empresário José Ricardo Fuser, que tinha câncer. "Naquele dia,
ele, que sempre foi doce, passou a agredir as pessoas que se aproximavam de
mim. Meu marido morreu enquanto eu estava voltando do hospital. E foi nesse
período que o cãozinho mudou. Desde então, ele não sai de perto de mim, para
eu não ficar triste." |